sábado, 28 de maio de 2011

O Modernismo e os tradicionalistas paranóicos

Dom Henrique Soares da Costa, Bispo auxiliar de Aracaju-SE


Vários sites da Internet, em nome de certa visão estreita e equivocada do catolicismo, da Tradição e do próprio Magistério, têm feito
graves acusações ao Concílio Vaticano II, além de mais ou menos veladas críticas aos últimos papas, de João XXIII a Bento XVI. Esses sites são de orientação mais ou menos próxima à Fraternidade São Pio X, do falecido Arcebispo cismático Dom Marcel Lefebvre, que faleceu excomungado: são todos eles tradicionalistas (não tradicionais, no sentido correto e sadio do termo e da Tradição católica), reacionários (não simplesmente conservadores, o que não seria mal nenhum. Reacionários porque seu estado de espírito é destrutivo, inquisitorial, de retranca, de visão estreita, arcaica e hostil a qualquer progresso na teologia, no dogma e na vida da Igreja).

O refrão desses referidos sites é individuar em todos os níveis e ambientes da vida da Igreja erros e perigos à reta fé, espalhar anátemas e condenações e fomentar uma estranha e ultrapassada guerra apologética, própria do início do século XX, em nome da ameaça onipresente da heresia modernista. Para eles, paranoicamente, todo mundo é modernista: os últimos papas, os teólogos atuais, o episcopado em geral, o clero como um todo, os vários movimentos leigos...

É mais que patente para qualquer pessoa de bom senso que esse pessoal vai rapidamente tomando o caminho do cisma. Primeiro dá-se o cisma psicológico, afetivo, que faz ver com suspeita a Igreja e seus pastores; depois, vem o cisma de fato, a incompatibilidade entre a fé do grupelho de “iluminados” e a percepção da Grande Igreja, aquela composta pelo Povo Santo de Deus em comunhão com seus legítimos pastores com Pedro e sob Pedro. Em geral – mesmo quando não diz – esse pessoal somente considera como papas sem nenhuma restrição os pontífices até Pio XII. A fidelidade deles é ao papado do passado ou, melhor falando, ao papado da cabeça deles. Os papas atuais são por essa gente julgados, crivados de crítica e manipulados nas suas intenções e magistério; se alguns deles citam Bento XVI, é de modo unilateral e desonesto, sempre manipulando o Magistério pontifício para tentar fazer o Papa dar razão às próprias irracionalidades. Que ninguém se iluda pela linguagem engomada e afetada que utilizam, cheia de “V. Revma.”, “V. Excia. Revma”, “Senhor Padre”, etc. Toda essa afetação, na verdade, somente revela um apego doentio ao arcaico e tudo que os segure no final do século XIX e início do século XX, final do pontificado de Pio IX e pontificado de Pio X.

Como muitas pessoas perguntam-me sobre esses sites e pedem-me uma avaliação sobre eles, pois que estranham a animosidade em relação à Igreja e ao Episcopado, aos teólogos e a muitas sãs manifestações da vida eclesial, resolvi descrever de modo esquemático e bem simples a crise modernista, suas conseqüências e o atual estado da questão, para que o leitor possa compreender o quanto essas pessoas nominalmente católicas, mas às portas do cisma, aparentemente tão fiéis à Tradição e ao Magistério, mas deles tão distantes de fato, estão equivocadas e distantes do reto sentir da Igreja de Cristo. Como me dirijo ao grande público, procurei ser sucinto e evitar detalhes aprofundados sobre questões teológicas que escapariam de modo geral às pessoas. Meu intento é somente fazer com que se compreenda a posição da Igreja e o erro dos tradicionalistas reacionários.

Não nutro nenhum desejo de polemizar ou dialogar com esses grupos, que, de tão radicais, fechados e fundamentalistas, são impenetráveis a qualquer argumentação que não se enquadre em seus estreitos e pobres horizontes. Tentar dialogar com eles é como tentar dialogar com os protestantes fundamentalistas, sem tirar nem pôr. Nem mesmo freqüento tais sites, pois de modo algum valem a pena. Meu interesse é somente prevenir de modo argumentado e metódico aqueles que se sentem perplexos ante a aparente solidez da argumentação desses reacionários. Assim, cumpro somente com meu dever de defender a fé católica e ajudar o rebanho de Cristo para que não caia nas armadilhas que tantas vezes aparecem na sua peregrinação terrestre.



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