Alecio Souza Vieira
Mt 16, 21-27
Juntamente com o coro dos santos anjos e arcanjos louvamos e adoramos o Senhor sob o véu do Sacramento. A Ti, Oh Amado Senhor o nosso louvor e adoração. E olhando para Ti nesta noite pedimos a graça de saber carregar a nossa cruz em nosso dia-a-dia.
· 1º Ponto
“Pedra de tropeço”
Neste Evangelho que acabamos de ouvir nos é apresentado um momento muito difícil da vida de Jesus: Ele sabe que irá sofrer, morrer e ressuscitar, e agora anuncia aos seus discípulos. O apóstolo Pedro não compreendeu e repreendeu: “Deus não permita tal coisa, Senhor!Que isso nunca te aconteça!”. Pedro, que em alguns versículos atrás é elogiado por Jesus ao professar a sua fé,iluminado por Deus, o reconhecendo como Cristo, agora já fala por si, ao não aceitar o sofrimento de Jesus, que o repreende fortemente, chamando-o não mais de rocha, mas de “pedra de tropeço” (Skándalon).
“Aquele que é chamado a ser rocha, por graça de Deus, por si só é uma pedra no caminho”(Cardeal Ratzinger- compreender a Igreja hoje).
Não vamos aqui falar da infalibilidade papal, do primado de Pedro ou do poder das chaves, falaremos da atitude de Pedro diante do anúncio da Paixão do Senhor.
Vemos aqui um grande paradoxo na vida de Pedro: o pensar e o agir iluminado por Deus e o pensar e o agir por si próprio, por sua humanidade.
Caríssimos, o pensar segundo a carne, a busca pela felicidade terrena, a ambição pelos bens que passam e o sucesso jamais poderão andar em união com o caminho proposto por Jesus. Quem quer ser fiel ao evangelho e ao projeto do Reino Eterno tem que nadar contra a maré, contra o que este mundo oferece e contra a nossa própria vontade.
Serve para nós o que Nosso Senhor nos apresenta: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?” Precisamos perder a nossa vida sim, deixar morrer a nossa vontade, para que já não sejamos chamados de Skándalon, mas de rocha. Não no mesmo sentido que Pedro, é claro, mas rochas firmes, inabaláveis para que o Senhor construa sobre nós o que é de seu agrado.
"O que verdadeiramente torna desgraçado uma pessoa - e inclusivamente uma sociedade inteira - é essa procura, ansiosa e egoísta, de bem-estar: esse intento de eliminar tudo o que contraria" (São Josemaria Escrivá)
É bem mais fácil largar a cruz, e buscar uma felicidade prazerosa, mas momentânea. É muito mais cômodo fugir dos problemas, eliminar o que nos contraria e se iludir num mundo hedonista de pessoas que se julgam extremamente felizes. Fazer o contrário disso é para este mesmo mundo, uma patologia, todavia prefiro chamar isso aqui de santidade. E esta santidade é conquistada no cotidiano, nas pequenas coisas: Desde a menor à maior de nossas obrigações. Aí está o segredo da verdadeira felicidade, que ao contrário do que este mundo prega, consiste em fazer a vontade de Deus, nas pequenas coisas, consiste em ser homem o suficiente para assumir as minhas obrigações e carregar o fardo pesado da cruz, e versa ainda em saber renunciar a si próprio em vista de um querer mais sábio e benéfico que é o de Cristo. Ao deixar Deus realizar em nós a sua obra, não é eliminada a nossa natureza humana (Pedro não deixou de ser homem ao professar a sua fé no Cristo), mas esta natureza é aprimorada e nos faz ser mais homens ao nos remeter ao princípio para nos deparar com o que de verdade nós somos: imagem e semelhança do Criador.
· 2º Ponto
Amados irmãos, Cristo nos lança um grande desafio, ou melhor, uma condição para sermos verdadeiros seguidores seus:
“Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”
Ele não coloca outro caminho opcional que seja mais light. Cristo apresenta como única condição para seu seguimento o que é o mesmo destino seu, a renúncia e a cruz. Vemos aí uma total identificação do discípulo com o Mestre.
A renúncia implica, como já vimos, em um despojar-se do ser homem do mundo para se tornar um homem de Deus, alguém que ouve o Senhor e segue sua palavra, obedece a sua Vontade. Precisamos pensar como Deus e não como os homens.
“Durante a perseguição nazista, muitos trens carregados de judeus partiam de todas as partes da Europa para os campos de extermínio. Eram convencidos de embarcar por falsas promessas de serem levados para lugares melhores para o seu bem, enquanto que, ao contrário, eram levados para a destruição. Às vezes, acontecia que em alguma parada do comboio, alguém que sabia a verdade gritava às escondidas para os passageiros: Desçam, fujam.E alguns conseguiam.
O exemplo é um pouco forte, mas expressa algo sobre nossa situação. O trem da vida no qual viajamos vai para a morte. Sobre isso, ao menos, não há dúvida. Nosso eu natural, sendo mortal, está destinado a terminar. O que o Evangelho nos propõe quando nos exorta a renunciar a nós mesmos é a descer deste trem e subir no outro trem que conduz à vida”. A renúncia cotidiana nada mais é que abrir os olhos para que, contemplando o Senhor e cumprindo a sua vontade, possamos entender os seus sinais para mudarmos para o trem que nos leva à vida.
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Como é difícil, irmãos, aceitar a cruz e o sofrimento! Como é difícil renunciarmos a nossa vontade, os nossos pensamentos para cumprirmos a vontade divina e pensarmos conforme o Senhor! Como somos muitas vezes cegos ao não ver os sinais do Senhor que nos convida a mudar de trem! Mas, aí está o grande desafio. Pedro também não entendeu no início, mas aos poucos, e de modo mais completo no cenáculo em Pentecostes, pois é somente, pela graça iluminadora de Deus, que se compreende a ação salvífica deste mesmo Deus por meio da cruz.
A cruz não representa o fim da vida, pois o sacrifício redentor do calvário só tem sentido para nós se olharmos para a ressurreição e vermos que o nosso Deus vence a morte e é o Senhor da vida. A cruz cotidiana nos traz sofrimento sim, todavia desta forma nos purificamos para chegarmos à pátria celeste, é preciso apenas ter paciência e olhar sempre para o Homem do calvário que soube acolher para si, de modo paciente, a vontade do Pai.
Como futuros sacerdotes precisamos ter isso bem claro:
“A única coisa que as pessoas buscam no sacerdote é Cristo” (Bento XVI)
O nosso modelo de sacerdote é Cristo crucificado, Sumo e Eterno Sacerdote. É só abraçando a cruz que encontraremos a ressurreição. Deixemos, irmãos, nos crucificar neste Amor! Entreguemos a nossa vida por completo, com Cristo, no altar da cruz! E que o nosso coração seja transpassado pela lança do entendimento de que somos homens de Deus, homens do calvário, homens disponíveis para o anúncio do Reino bendito. Só assim pensaremos como Deus e não como o mundo.
Peçamos a Maria, a mãe das dores, a Virgem da Piedade, que esteja conosco no caminho de cruz. Que o seu exemplo em estar de pé, numa posição de segrança, diante da sua grande dor no calvário, possa ser para nós um incentivo a não desistir diante do sofrimento e das dificuldades cotidianas.
Que o Bom DEUS venha em nosso auxílio e acolha em seu Divino Coração o nosso desejo de sermos somente Dele, e que nos abençoe em nosso bom propósito de renúncia e de aceitação da cruz, para que juntos possamos um dia contemplá-lo face a face no céu. Assim seja!
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Pregação na Hora eucarística proferida aos seminaristas do Seminário Maria Mater Ecclesiae do Brasil, 25-08-2011
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